quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

My dream? To travel the world!



Viajar... A primeira pergunta que se impõe é: o que leva uma pessoa a priorizar o prazer de viajar a qualquer outro objectivo? Ao objectivo de estabelecer-se num local, de mudar para um carro melhor, de diminuir as saídas nocturnas para poupar algum dinheiro, e o mais importante de tudo... adiar, aos 32 anos a constituição de uma família. Para a grande maioria das pessoas isto é completamente incompreensível, mas para um pequeno grupo, esta escolha de vida faz todo o sentido. Qual é afinal a mulher que com esta idade diz que ainda não está preparada para ter filhos nem para se dedicar a uma vida doméstica com o qual se sonha desde pequena? O casamento perfeito, o tal dia inesquecível... o positivo no teste de gravidez, os meses de gestação do que será o maior tesouro da vida de uma pessoa, um filho. Bom, tentar explicar que a vida é mais do que isto poderá passar por ignorância, e de facto é, pois como é notório não tenho filhos. Jamais poderia pôr em causa a importância de um filho e de um marido, e sem duvida nenhuma, a família é o mais importante pilar na existência de qualquer ser humano. Tendo isto em mente, e com o desejo de atingir este objectivo no futuro, a verdade é que ainda não estou preparada para assumir tal papel. E aqui levanta-se a questão, mas então porquê? Simples, porque ainda tenho de fazer muita coisa antes. Talvez seja egoísmo, mas eu prefiro chamar-lhe concretização. Nunca seria uma boa mãe se levasse na consciência o peso de que deixei coisas por fazer, e há coisas que tenho de fazer sozinha.

Para explicar o meu ponto de vista sem ser crucificada pelas mães deste país, terei de recuar uns bons anos... até à minha infância. Todos nós em criança temos uma perspectiva do mundo, que infalivelmente se altera ao longo dos anos. A capacidade de resistir a esta mudança, ou melhor, de não esquecer a perspectiva infantil é, para a grande maioria das pessoas inevitável. No entanto, todos nós temos presente na memória vários episódios da infância que nos marcam, uns mais outros menos. Eu tenho vários, e a grande maioria deles relacionados com outros locais do planeta. Lembro-me perfeitamente de ter 6 ou 7 anos e ver imagens na televisão de tribos perdidas no meio do continente africano. Foi, naquele momento, o primeiro de muitos estímulos que me levariam a fazer várias escolhas duas décadas depois. Apercebi-me, apesar da tenra idade que o mundo era muito mais do que aquilo que os meus olhos viam, do que aquilo que era a minha realidade. O mundo era grande, muito grande... era feito de diferenças, e todas elas me pareciam extremamente atraentes. Anos mais tarde, em plena adolescência costumava ver um programa de música na televisão. Nesse programa passou durante um tempo uma música com fortes influência árabes acompanhada por um vídeo filmado no norte africano. Concluí aí que, aliar cenários longínquos com música era o quadro perfeito. Nasceu assim a minha grande paixão pela música, e quem me conhece sabe que é um caso de puro afecto. O repto tinha sido lançado ali, naquela rotineira tarde de Sábado a ver um simples programa na televisão. A questão foi, será que daria importância àquilo, ou seria mais um situação do dia a dia? Na verdade, na altura não liguei muito, mas a verdade é que aquilo foi como um vírus que se foi alastrando pelo corpo ao longo dos anos, e o grande problema seria quando atingisse o cérebro e começasse a expandir para tornar-se num monstro. Nos anos seguintes, sonhei com viagens, escutava com ouvido apurado os relatos de quem tinha ido ao estrangeiro. Na verdade sentia inveja, pensava que as pessoas não davam o devido valor ao facto de terem o privilégio de visitar outros países, andar na rua e ouvir outras línguas. Pensava para comigo... eu sim, daria valor a tudo isso. E foi assim durante muitos anos... sonhei, sonhei, mas sempre fiquei por cá. A grande maioria das vezes porque realmente não tinha recursos para embarcar numa viagem, como por exemplo o interrail, mais tarde porque arranjava desculpas a mim mesma para não ir. Até que um dia, numa conversa de café como tantas outras com dois amigos meus que viviam no estrangeiro, desabafei que o meu grande sonho sempre foi viajar, mas que não tinha com quem ir e sozinha que não iria. A resposta deles dada em tom de pergunta foi esclarecedora e alterou para sempre a minha vida. “E porque não?”. Sim, e porque não pensei para mim.... e aquele “porque não” ficou tal como uma cicatriz que não sai da cabeça. Naquele momento a minha mente iluminou-se e parecia o grande êxtase de uma sinfonia. Se há coisa que se pode chamar de epifania, foi aquele momento. Percebi, aos 29 anos da minha vida que realmente sou eu que domino o meu destino, não é a sociedade, não são as regras... sou eu e os meus sonhos de infância... sonhos que fui construindo com a maior afeição desde sempre, em todas as imensas horas que viajei de qualquer transporte e ficava a olhar pela janela, ou pelas tantas horas a olhar para o céu e a pensar que seria lá o meu lugar, entre as nuvens. Descobri mais tarde que se há coisa que me dá imensurável prazer, é o movimento... o simples acto de me mover, seja de carro, comboio ou por cima das nuvens.

Assim, com 29 anos fui pela primeira vez a uma capital para além de Lisboa, Madrid. A ideia era ao mesmo tempo estimulante e assustadora. Estimulante porque seria a minha primeira viagem, assustadora porque nunca o tinha feito e não fazia ideia como me desenrascar. Quatro dias por lá e chegou para perceber que afinal viajar não era nenhum bicho de sete cabeças, que andar de metro é básico e que pedir comida não é como fazer um exame final. Vi algumas das minhas pinturas de eleição, vi monumentos que só conhecia por imagens, vi e senti uma cidade... uma cidade estrangeira. Por esta altura, conhecia apenas os aviões de os ver no céu, mas já era mais que hora de entrar num. Foi então que marquei a minha primeira viagem de avião para um destino que sempre disse para mim mesma que seria por lá que a minha grande aventura de viagens teria de começar. Esse local era próximo, com língua parecida, mesma moeda e não era muito longe, ou seja, o risco de me meter em alhadas era baixo. Esse destino foi Barcelona. Com o meu mano passei lá uma semana, e comprovei uma vez mais que era fácil viajar, aliás, demasiado fácil. Uma outra situação levou ao que sou hoje foi a decisão que tomei no dia em que completei 30 anos. Disse para mim com estas exactas palavras “Clara, se não fazes isto agora, não farás nunca”, e era a mais pura das verdades, já andava há demasiado tempo a adiar o meu destino. Numa tarde de Sábado, a do meu aniversário, sentei-me numa esplanada ao sol para comprar as passagens aéreas do que seria a minha primeira grande viagem. Se a indecisão no inicio era entre toda a Itália ou Europa Central, a audácia, o desejo, a impaciência de quem esperou tanto tempo levou-me a pensar... ou é ou não é, então será pelo mais difícil, mas mais compensatório. E assim, naquele mesmo dia ofereci a mim mesma a minha primeira grande viagem. Terminei a tarde com 6 voos reservados para visitar 5 países, da Polónia à Hungria. Agora não havia volta a dar, o primeiro e mais importante passo havia sido dado... Depois disso, grande parte da minha vida tem sido centrada em procurar novos sítios, e como um verdadeiro vício, cada vez quero mais longe, mais recôndito, mais desconhecido, mais estimulante...

E quem pensa que sou rica em tempo de pobreza está redondamente enganado. É tudo uma questão de prioridade. Vivo com os pais porque independência para mim é muito mais que ter a minha casa, é independência no viver e não no onde viver, e trocaria qualquer jantar sozinha pelo prazer de ter com quem conversar, ou o simples acto de dar as boas noites ou os bons dias. Sei que independência não é sinónimo de liberdade de espírito. Poupo dinheiro, muito. Não compro roupa todas as semanas nem tão pouco todos os meses, não gasto dinheiro em nada que não me faça realmente falta. Será que vale a pena? Tudo vale a pena quando a alma não é pequena, já dizia Pessoa. Viajar com orçamento reduzido implica dias e mais dias de pesquisa, principalmente na procura de voos e hotéis. Mas isto é uma função que me dá tremendo prazer e não a trocaria por nada. Por cada minuto que estou a pesquisar é um minuto que passo a sonhar. A certa altura da minha vida pensei que já era velha para começar a viajar de mochila às costas, mas não, a altura certa é quando uma pessoa sabe que tem mesmo de fazer isso, que já não pode esperar mais. A minha altura tardou, mas chegou. Na verdade, uma pessoa nunca é demasiado velha para fazer nada, só tem é de se convencer disso. Vivo ansiando o próximo mochilão às costas cheio de expectativas, o próximo comboio em que seja a única forasteira lá dentro, o próximo avião que me leve às nuvens, o próximo prato que não saiba o que é a comida, a próxima conversa com algum viajante ou até mesmo uma comunicação feita por desenhos, o próximo sorriso de um empregado de mesa... tudo isto faz-me sentir viva, completa e feliz. Em cada partida sigo geralmente um ritual que não dispenso, a música que me acompanha. Se de ano para ano a música vai variando, nunca me desleixo de ouvir Tchaikovsky na porta de embarque e Jonsi enquanto voo. Isto leva o meu pensamento muito acima dos 10km de altitude a que geralmente costumo voar.

Passaram 3 anos desde a minha primeira aventura, em 2010, o ano em que fiz 30 anos e que pela primeira vez andei de avião. Hoje, já conto com 23 países e mais uma grande viagem marcada para o outro lado do planeta. Horas de voo? Já vão centenas. Agora mesmo encontro-me no aeroporto de Madrid à espera de um voo para o Porto. Apesar de passar imensas horas em aeroportos não acho aborrecido, encaro isto como um local e tempo de aprendizagem e observação. Misturar-se com todo o tipo de pessoas, cada uma movendo-se para locais diferentes, sem nunca mais se cruzarem. As lágrimas de quem parte cheias de dor, e as de quem chega com o coração a transbordar de alegria. Quem nunca sentiu estas lágrimas, as mais puras de tristeza e saudade quando se vai e as mais genuínas de alegria quando se dá aquele abraço no reencontro, é porque não está a viver da maneira que é suposto. Quando me perguntam porque viajo tanto, a minha resposta é simples. Porque preciso. Quando me perguntam porque não tenho filhos, a minha resposta é: porque ainda não estou preparada. Quando estiver, sei que serei uma mãe melhor do que seria neste momento. E este acto de egoísmo, no fundo é de responsabilidade e amor, porque eu tenho de conhecer o mundo antes de tentar ensinar uma criança a viver nele. E já vi algumas coisas... obras primas de alguns dos maiores pintores do mundo, entrei em mesquitas em pleno ramadão, tomei banho em algumas das mais belas praias do planeta, vi alguns dos mais altos edifícios do mundo, andei de bicicleta em estradas perdidas do Vietnam ao lado do Mekong, saltei de barcos como uma criança para as águas de Halong Bay, nadei nos meio de centenas de peixes coloridos, andei nas ruas de algumas das cidades mais movimentadas do mundo, jantei em pequenas mesas com pessoas dos quatro cantos do mundo, partilhei quartos em hostels com dezenas de pessoas, vi santuários de quase todas as religiões, dormi em aviões, comboios, no chão de aeroportos e estações ferroviárias, autocarros, bancos e relva de jardins, dormi nos melhores e nos piores hotéis... e tudo isto fez de cada viagem uma aventura inesquecível... Porquê? Porque sou uma viajante e não uma turista, porque tenho de ver com os meus próprios olhos tudo isto e muito mais, porque a minha realidade altera-se a cada momento que vejo, toco ou sinto algo novo. Faz de mim um ser extremamente mutável e diversificado... a isto chamo riqueza.

Três anos, apenas três anos e consegui atingir aquilo que cheguei a pensar não ser possível, concretizar este sonho de infância. Sou aquela Clara sonhadora que vivia com os olhos colados nas estrelas, sou aquela Clara que percebeu que somos donos do nosso destino, a mesma que sabe que para dar valor ao que temos por vezes precisamos de ver com os nossos olhos a realidade de quem nada tem, que sabe que um sorriso não é comprado mas conquistado, que o respeito é a fundação da civilização, que a humildade é um dos mais fortes valores que podemos adquirir, que a boa educação não está relacionada com nível de estudo e finalmente, sou aquela Clara que percebe que os únicos impossíveis são aqueles que impomos a nós próprios.

Farei da minha vida uma vida vivida... bem vivida. E que venha a próxima viagem!

Sigur rós @ Coliseu Porto

Adoro por demais esta banda vinda da Islândia. Apesar de os ter visto no ano passado no D-Code fest em Madrid, sempre disse que verdadeiramente a primeira vez que iria ver esta banda seria no dia 13 de Fevereiro no Coliseu do Porto. Isto porque sigur rós têm de ser vistos num ambiente próprio, e um festival de todo não é o ambiente certo. Bem, com a Leninha e o Luís ao lado, a outra Leninha e a Tânia em baixo na plateia vi um dos melhores concertos de sempre. Arrepiante, épico, transcendente, eram palavras que ouvia do publico no final do concerto. Costumo dizer que há duas maneiras de chegar ao céu, uma delas é andar de avião, outra ºe ouvir sigur rós. E durante 2h andei lá em cima... muito... Há concertos que se vêm uma vez e chega, outros, como este é de ver em todas as oportunidades que apareçam.

Santiago Bernabeu

Dia 9 de Fevereiro, finalmente.... sim, finalmente fui ver um jogo do Real Madrid. Gosto muito de futebol, passo longas temporadas em Madrid e o facto de ainda não ter visto um jogo ao vivo era indesculpável. Bem, tratei então de corrigir este erro, e numa fria noite de Sábado fui ver o jogo entre o Real Madrid-Sevilha. Resultado final: 4-1 para o Real com 3 golos de Ronaldo. Escolhi bem o jogo ;)

Patrick Wolf @ Casa Artes Famalicão

Sexta feira, 26 de Janeiro. Uma noite fria na qual fiz questão de pegar no carro e fazer sozinha alguns quilometros para ver ao vivo um concerto acustico em Famalição. O escolhido foi Patrick Wolf, um artista que apesar de não conhecer a sua carreira a fundo nem acompanhar o seu percurso, sabia pelas poucas musicas que conhecia dele que valia a pena fazer 90km para o ver ao vivo. E na verdade, apesar de não saber muito bem com o que contar, gostei muito. Um piano, uma harpa, um acordeão, viola, flauta e violino em palco, o cenário para quase 2h enterrada na cadeira a deliciar os ouvidos e a visão naquele concerto tão intimista.