Estive bastante tempo para escrever este post porque não conseguia, e ainda não consigo encontrar o discurso certo para expressar o sentimento. Precisava de comprar um carro, mais por necessidade do que por querer, e quando uma pessoa chega ao ponto de ter um carro com 12 anos, sem AC, sem vidros eléctricos nem sequer fecho central e não querer mudar é porque as razões devem ser grandes. E são! Um bolinhas Fiat Punto, que agora deixei com 260 mil km, incontáveis horas a conduzi-lo de Fafe ao Algarve, ao Alentejo, a Madrid, viagens diárias a Alpendorada, Porto, Gerês e muitas outras localidades nas primeiras horas da manhã ou já noite dentro após o final do dia de trabalho. Passei várias vezes por carros avariados na berma da estrada e tinha uma certeza, a que o meu bolinhas nunca me deixaria assim... e nunca deixou. São tantas as recordações naquele carro. Foi o meu primeiro bilhete de independência, o meu primeiro carro, e ainda mais valorizado pois sei que fui eu que o paguei. Diga-se o que se disser, o sentimento é diferente quando comparado a um carro oferecido pelos papás. Foi um orgulho imenso conduzi-lo durante 6 anos, foi ao seu volante que pensei e reflecti sobre o que provavelmente foram os melhores e piores momentos da minha vida. Não era o melhor carro na estrada, não era o mais seguro, não era o mais rápido nem tão pouco o mais apresentável. Deixei-o com imensas marcas na carroçaria, e sei onde foi feita cada uma... eram cicatrizes da dura vida que teve, felizmente coisas pequenas. Costumava dizer ao meu irmão que quando alguma coisa não estava bem no carro para falar com ele, que ele tinha vida própria. Óbviamente, isto parece no mínimo ridículo, mas a verdade é que após várias situações onde o falar com o carro resolveu o problema o meu mano deixou de ser tão céptico. Podiam ser apenas coincidências claro, mas não gosto de pensar assim. Passei tanto tempo destes últimos anos sentada naquele banco, que inevitavelmente se tornou um "amigo", ou se quisermos chamar, uma extensão de mim. Por isso, no dia em que pela primeira vez entrei no meu mais recente carro, um enorme sentimento de tristeza invadiu-me quando olhei o bolinhas que estava mesmo ao lado. Era a despedida, o inevitável afastamento. Ainda tenho o carrinho faço questão de, sempre que posso conduzi-lo. E de muitos carros que conduzi, nenhum deles me consegue preencher tanto como aquele. Estava velhinho para a dura vida que tinha, teve mesmo de ser assim. Mas ficam todas as recordações e a certeza que não foi um carro, foi o meu carro, o meu querido bolinhas. Aquele carrinho velhinho a andar na estrada, mas com uma confiança descomunal a somar km.
Agora, carro melhor, mais confortável, mais económico, mais rápido... mas não é a mesma coisa.
Vou ter saudades do meu IP, o meu "jipe" que me levava a todo o lado e passava em qualquer rua estreita ou subia montes.
Agora, carro melhor, mais confortável, mais económico, mais rápido... mas não é a mesma coisa.
Vou ter saudades do meu IP, o meu "jipe" que me levava a todo o lado e passava em qualquer rua estreita ou subia montes.
Revi-me nessas palavras como se minhas fossem… de facto também tenho um enorme afecto pelos meus carros… ao ponto de ser um enorme desgosto e um drama quando tenho de os largar. Foram tantos os momentos (nem sempre bons) que passamos ao lado do nosso amigo. Revejo-me imenso neste aspecto no filme : “Hidalgo a grande cavalgada.” Ainda que o nosso amigo não seja um puro sangue… para mim é sempre o melhor.
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