sábado, 20 de fevereiro de 2010

Florbela Espanca

Tenho de confessar... adoro Florbela Espanca


Como te tens lembrado hoje de mim?


Nós, pobres mulheres, apesar do nosso imenso e frágil orgulho, não somos, afinal, mais do que argila que as mãos deles moldam a seu belo capricho. Feliz da argila que, no seu caminho, encontra, como eu, o estatuário que a vai moldando a acariciá-la! Gosto tanto de ti que me não revolto, eu, a eterna revoltada, aquela que teve sempre por coração um oceano imenso a que ninguém jamais descobrira o fundo. Como te tens lembrado hoje de mim? Com saudades? Com desejos de me beijar? Com tristeza? Como? Gostava tanto, tanto de saber a cor dos teus pensamentos quando são meus! Queria que eles fossem roxos, como os lilases, ou cor-de-rosa como os beijos que eu te dou. Tenho saudades, saudades, saudades. Reparei agora para uma coisa: é curioso como eu não sou capaz de vestir um vestido alegre quando tu não vens. Já segunda-feira vesti o vestido preto e hoje sem pensar fui vesti-lo outra vez. E é verdade que eu ando de luto, de luto por uns beijos que trago e que se não dão e que morrem de frio longe da tua boca; queres luto mais triste? Meu amigo, tu és muito mau que me não quiseste hoje ao pé de ti.

1 comentário:

  1. Gosto de Florbela Espanca, mas não conheço esse poema. Muito conseguido… pena o vestido, mas o preto cai bem com tudo até quando o nosso estado de espírito se confunde com ele.
    E amigos desses não se desejam a ninguém... os amigos são para as ocasiões, e uma ocasião dessas não é de desperdiçar.

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