terça-feira, 11 de outubro de 2011

Sarajevo @ Bósnia

Fim de tarde em Mostar numa estação de comboios cujo aspecto era de abandono. Ervas a crescer pelos carris, apenas uma antiga carruagem estacionada e carros pela gare. Dessa estação lembro-me perfeitamente da senhora que nos vendeu os bilhetes em que a comunicação se fez essencialmente por gestos e papéis. Lembro-me dela sozinha numa cabine, a fumar um cigarro de boquilha, óculos na ponta do nariz, uma roupa floreada, uma permanente dos anos oitenta... mas com uma simpatia e paciência descomunal.
Se esperava uma viagem de comboio tranquila, estava muito longe de adivinhar as condições em que iria viajar. Um comboio muito podre, completamente cheio, onde as pessoas com sorte arranjaram lugar naquelas poltronas (sim, poltronas) com um aspecto miserável, todos partidos e cheios de nódoas, mas com um aspecto confortável, onde tudo fumava lá dentro, onde as garrafas de cervejas vazias se espalhavam pelo corredor, e onde metade dos passageiros fez toda a viagem de 3h de pé ou sentada no chão, onde eu me incluía. No entanto aquela vista é completamente avassaladora, e foi nessa altura que comecei a perceber o quão bela é a Bósnia.
Chegados à noite a Sarajevo a prioridade era chegar ao hotel no centro, pousar as coisas, tomar um banho e jantar. Um simpático taxista lá nos levou, apesar de algumas travagens bruscas e manobras perigosas, além de, a meio do percurso, simplesmente meter a mão de fora e retirar a tabuleta que dizia "Ofical Taxi Sarajevo". Enfim, nada a que uma pessoa não se habitue em taxis no estrangeiro.
Não imaginaria que viesse tão cedo a Sarajevo. Geralmente não é daqueles locais onde uma pessoa sonhe ir. Bem, isto pode ser para a maioria das pessoas, mas quanto a mim, gosto de ver locais com história, seja ela boa ou má. Passei parte da minha adolescência a ver notícias da guerra na Bósnia, principalmente o cerco a Sarajevo, e sinceramente, não sei muito bem o que esperar daquela cidade. A primeira impressão é que a cidade está recuperada. Uma rápida volta pela parte da cidade pós guerra dá para denotar que está repleta de edifícios modernos como uma qualquer outra capital europeia. O que realmente me surpreendeu foi o centro histórico. Estava à espera de ver algumas casas com as marcas de balas, mas o que vi foram algumas ruelas giríssimas, com pequenas lojinhas em madeira, quase a lembrar um ar medieval. Faz-se compras e come-se muito bem por lá. Esta parte da cidade, apesar de não ser grande é bastante acolhedora. Recordo-me de uma altura em que já era tarde, e passei numa dessas ruas onde estava um bar a dar boa música, e toda a rua estava apinhada de gente jovem a beber, ouvir musica, tal e qual bairro alto em Lisboa ou as galerias no Porto. Fiquei com a noção que afinal Sarajevo esteve em guerra sim, mas hoje é uma cidade normalíssima apinhada de turistas. Aproveitei também para conhecer a ponte onde foi assassinado o Arquiduque Franz Ferdinand, cujo acto desencadeou a Primeira Guerra Mundial. Tive ainda tempo para ir até ao Estádio Olímpico, apesar de ser bastante longe e da desilusão ao chegar lá e ver que estava fechado. Por essa longa caminhada, deu para conhecer um pouco melhor a verdadeira cidade, e não apenas a face que se mostra aos turistas. Agora já se vê em todas as casas as marcas da guerra, mas é apenas isso, nada mais. Agora, a verdadeira imagem que fica de Sarajevo é apenas uma: os cemitérios. Jamais imaginei a quantidade de tumulos que vi naqueles dias, é algo de assombroso. Todos os pequenos espaços da cidade estão repletos de campas, tanto muçulmanas como cristãs. Uma rotunda é aproveitada para cemitério, um parque também, os pequenos jardins espalhados pelas mesquitas ou pelas cidades também o são, e falta ainda a maior visão, que é olhar para as encostas que rodeiam a cidade, e a única paisagem que se vê é as encostas pintadas de verde e salteadas de branco. É uma visão a que ninguém consegue ficar indiferente, não se consegue mesmo. Mas ao mesmo tempo, é uma coisa tão presente nos olhos, que quase começa a perder a magnitude na mente...











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