sábado, 25 de agosto de 2012

Agosto dos emigrantes


Depois de dois convites, decidi aceitar o desafio, assim cá vai meu primeiro artigo para um conceituado blog fafense.




Permitam-me que comece por explicar que, independentemente do número de textos que aqui forem publicados em meu nome, farei questão de enaltecer as qualidades desta bela cidade que considero como o meu lar. Mais do que o local onde habito, mais do que o local onde nasci, é verdadeiramente o meu lar. Para questões políticas ou de problemas que eventualmente surjam na cidade, entendo que existem pessoas bem mais informadas do que eu, e deixo então essas crónicas aos competentes da matéria.

Agosto, se para muitos é apenas sinónimo de férias, para todos os fafenses também representa emigrantes.  Para muitos implica uma maior confusão nas estradas, nos supermercados, nas ruas e o caos total nas feiras semanais.  Principalmente a língua francesa faz competição com a língua de Camões nos passeios, a cidade ganha movimento como só este mês conhece, os cafés ficam lotados, a vida noturna agitada e em todo este cenário os comerciantes e empresários ficam  agradecidos.

Há no entanto o outro lado, a genuína faceta de quem parte para terras longínquas e regressa durante umas semanas ao local que chamam “a terra”. Sim, porque passam anos a viver em países distantes, criam famílias e grupos de amigos, mas para todos, esta é a terra onde o coração diz que pertencem.
Atravessamos um período a que chamam de “novos emigrantes”, jovens bem formados que procuram uma qualidade de vida e reconhecimento que infelizmente o nosso país não proporciona, mas não é destes que falo. Falo sim, da geração que partiu em décadas passadas e que se concentra essencialmente em França e Suíça, onde lá mesmo criaram comunidades portuguesas para enganar as saudades. Estes emigrantes, que enchem a mala do carro de sacos e bagagens, que atravessam países atolados num carro, que passam dias, semanas ou meses a contar os dias para regressarem a Fafe . Regressar a Fafe... regressar à casa que conta muitas vezes toda a história de uma infância longínqua,  abraçar saudosamente a família que por cá fica, sentar pela primeira vez na mesa para ser servido um jantar especialmente feito para quem chega de uma longa viagem, ir à igreja da aldeia e ouvir uma missa na língua materna, entrar no café e rever as caras conhecidas e pedir o primeiro café. Isto é a maior compensação que um emigrante pode ter, isto é o verdadeiro regresso.

O tempo passa a voar para quem tem os dias contados e depressa começa a aproximar-se o dia da partida. O transito na cidade começa a regressar ao fluxo normal, o número de pessoas das ruas diminui e a cidade começa a perder a energia que a acompanhou nas últimas semanas. Despedem-se com um “até para o ano” e a cidade responde “assim será, cá ficarei à espera”.

Hoje, ao fazer a autoestrada de Fafe para o interior do país, foi notória a quantidade de automóveis com matrículas francesas pelas quais passei, e não consegui deixar de imaginar a tristeza com que muitas dessas pessoas regressam ao país onde trabalham. Perdão, elas não regressam a esses países, elas vão para esses países, porque o verdadeiro regressar, regressam ao nosso, e regressam a Fafe, à terra...

A todos que irão embarcar em milhares de quilómetros pelo asfalto, só posso desejar o seguinte: Façam boa viagem.

Clara Magalhães

PS: Apesar de viver em Fafe, por vários motivos ausento-me da cidade por períodos de tempo significativos, embora nada comparável a estes emigrantes. Ainda assim,  não consigo de esboçar um sincero sorriso quando chego à minha terra, seja quando venho na estrada que liga a Guimarães e avisto o monte de Santo Ovídio tão familiar ao meu ser, seja quando regresso pela autoestrada e vejo a sinalização a indicar “Fafe”. Se me comovem estes pequenos regressos, a um emigrante deve ser uma sensação colossal. Dito isto, fica aqui o meu sincero agradecimento por voltarem todos os anos, mas acima de tudo, pela coragem de quando partem.

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